Tiaras coloridas, bandanas na cabeça, expressões como “é tão romântico”, debates sobre malcriações e desigualdade social tomaram as salas de aula do ensino infantil, segundo reportagem publicada nesta semana pela Folhapress.
A regravação da novela “Carrossel”, exibida pelo SBT e que vem mantendo audiência acima dos 10 pontos no Ibope, na Grande São Paulo, desde a estreia, em maio, é fenômeno entre as crianças.
“Parece um pouco a escola de verdade. Tem professora boazinha, aluno bagunceiro, gente pobre e rica. Mas tem mais tragédia, coisas que dão medo. Ainda bem que na minha escola não tem”, afirma Sofia Crispim Soares, 7.
Na escola municipal Professor Laerte José dos Santos, em Osasco, onde estuda, alunos podem debater e brincar sobre o universo de “Carrossel”. “Às vezes, se animam demais e preciso tomar as rédeas”, diz a professora Daniela Cristina Dândalo Freire.
Ela diz observar se as crianças se incomodam quando recebem apelido de um personagem. “Caso isso aconteça, é momento de interferir.”
O pior caminho para a escola, afirma Ângela Soligo, doutora na Faculdade de Educação da Unicamp, é vetar o tema. “Aquilo que é de interesse da criança precisa ter espaço dentro da escola.”
Segundo Soligo, cabe ao professor transformar as experiências dos alunos “em boas práticas como o incentivo à leitura, a reflexão sobre temas abordados na trama.”
A professora Fabiana Gomes, do colégio Esperanto, no Tatuapé, foi apelidada de “professora Helena”, a protagonista de “Carrossel”.
Para ela , a novela tem ajudado. “Aproveito para promover debates de valores sobre o que assistiram.”
Em Marília situações semelhantes estão espalhadas pelas escolas, mas há uma orientação de “nada em sala de aula”. As crianças aproveitam os horários de intervalos – lanche, chegada e saída – para conversar sobre a novela, trocar figurinhas ou outros produtos. No dia do brinquedo, as bonecas – como a “Valéria”, por exemplo -, dão um colorido extra às atividades. Nas cabeças das meninas as tiaras remetem à trama infantil.
Pais despertam para a novela
As irmãs Helena, 7, e Heloisa, 9, não perdem um capítulo. Se não estão em casa, deixam gravando para assistir em outro momento. Reúnem livros de história, de atividades, álbum de figurinhas, bonecas (Valéria), tiaras, mochila, recortes de revista e até expressões usadas pelos personagens de “Carrossel”.
Quem chamou a atenção para a novela foram os pais, a professora Juliana Paolillo e Josiel Ribeiro. Eles assistiram à primeira versão. “Criamos a expectativa, não é uma novela de adulto. Assistimos juntas, mas antes tem as obrigações, chegar da escola, ir para o banho, jantar, fazer a tarefa”, diz Juliana lembrando que atende aos pedidos das filhas “dentro do possível. Fanatismo é complicado, tem de ter limite, não dá para parar a vida por causa da novela.”
No dia-a-dia, as garotas usam os acessórios e as expressões. Heloisa conta que os meninos, na escola, a chamam de Maria Joaquina. Helena já se identifica mais com a Valéria, “ela é sapeca”. A mãe fala em “questionadora” e conta que na primeira versão Maria Joaquina era arrogante, a vilã, agora conquistou a criançada.
Na escola real tudo tem limite, brincadeiras, álbum, conversas só fora do horário de aula.
Crianças se divertem com atitudes e acessórios
A pequena Fernanda da Silva Nicola, 6, aluna do 1º ano da escola “Bento de Abreu Sampaio Vidal”, assiste a “Carrossel”, e destaca os personagens Maria Joaquina, Valéria e Daniel. “Eles são bonitos”. A garota cita ainda a “bagunça” que os alunos da professora Helena (na ficção) fazem na escola e lembra que na sala real, a professora Antoninha “é brava”, mas a mãe de Fernanda, Cristina enfatiza: “a professora é que sofre na mão dela, ela fala muito na sala”.
Com as amigas Maria Julia e Giovana, Fernanda conversa sobre a novela. Ela se identifica mais com a Valéria e já pediu à mãe a tiara igual da personagem, têm a camiseta, o álbum de figurinhas e o CD e DVD, aliás sabe todas as músicas.
Fernanda assiste à novela acompanhada do pai, Marcelo. “Se cochila, o pai tem de acordá-la, caso contrário ela reclama. Deixamos assistir porque o conteúdo é saudável, ela fica mais antenada, brinca e identifica as diferenças”, frisou a mãe de Fernanda.
Luis Felipe da Silva Maia, 7, aluno do 1º anos da escola “Prof. Olímpio Cruz” também não perde um capítulo. Na hora de “Carrossel” a TV é dele. O garoto que se identifica com o personagem Kokimoto já pediu a faixa para por na cabeça, tem os DVDs e já identifica as ações reprováveis como o dia em que o personagem Paulo colocou minhoca no lanche de Carmem “isso foi muito ruim”. Ele conta que sua professora “real”, Cristiane, é boazinha, mas se preciso põe de castigo. “Meu pai vai comprar a faixa para mim e vou arriscar ir à escola com ela. Se a professora tomar, tento de novo”, diz o garoto.
O amigo de Luis, João Carlos Borges de Almeida, 9, coleciona os cards da novela, “mas não bato, porque estraga”. Ele fica atento na escola, “se levar a diretora toma, depois devolve”.
João se diz igual ao Jaime, “sou gordinho como ele e o Jaime tem o coração bom, às vezes eu fico estressado como ele. As meninas me chamam de gordinho, mas não ligo”, conclui.
Fonte: Jornal Diário de Marília
Nenhum comentário:
Postar um comentário